domingo, 25 de maio de 2008

Lembranças de uma amizade







I



O convite chegou pelo correio, foi entregue em minhas mãos pelo carteiro, era um envelope de papel grosso de cor pastel, trazia escrito em uma bela caligrafia dourada dois nomes. O masculino eu conhecia, o feminino pelo contrario, não existia nem uma vaga lembrança de ninguém com esse nome.
- A senhorita poderia assinar aqui? – o carteiro me esticou uma prancheta com uma caneta.
- Claro. – Sorri simpaticamente.
Rubriquei o papel e o devolvi ao carteiro, sem ao menos agradecer me virei de costas para o portão e andei arrastando meus chinelos até a porta de vidro, ainda olhando para aquele convite em minhas mãos, foi uma enorme surpresa recebê-lo. Encostei a porta e subi o pequeno lance de três escadas até a porta da sala que estava aberta, e me sentei no sofá.
Ao abrir o convite, lá estavam descrito todos os detalhes do casamento, os nomes dos pais, dos noivos, local da cerimonia e da festa, a data do evento tão esperada por tantos pais e o sonho de tantas mulheres. Dentro daquele envelope tinha algo mais um papel branco, era uma carta do noivo.
"Manuela, sei que devo ter te pego de surpresa com esse convite de casamento, infelizmente não tive oportunidade de lhe entregar em mãos, queria ter lhe feito uma surpresa, convidando pessoalmente você para ser minha madrinha juntamente com o Tomás. Creio que está bem confusa com a situação, tudo bem eu também estaria. Desculpe-me por ter escondido tanto tempo de você esse evento tão importante em minha vida, mas como havia lhe dito, era pra ser uma surpresa. Me ligue quando receber isso, você sabe o numero. Um enorme abraço do seu velho amigo Thiago".
Coloquei a mão atrás da nuca e pensei um pouco no que estava acontecendo. Peguei meu celular que estava jogado no assento do sofá ao lado, disquei a sequência de números desejada e aproximei o aparelho do ouvido, não foi preciso chamar mais que quatro vezes, logo ele atendeu.
- Manuela, olá - me disse ele logo, do outro lado da linha.
- Thiago – disse calmamente – até quando você pretendia esconder isso de mim?
- Então você recebeu o convite?
- Recebi sim, mas acho que a intenção não é só que eu seja sua madrinha não é?
- Do que você está falando?
- Thiago não me responda com perguntas. Por que eu e o Tomás? Não podia ser outro padrinho?
- Ah! É isso. Não, isso não é uma tentativa de reaproximar vocês, pode ficar tranquila, porém escolhi ele, pois são meus amigos, e realmente vocês ficam muito bem juntos.
- Mas tem tantos outros Thi, o Carlos, o Rodrigo, o Matheus até o pequeno Caio que nem é mais tão pequeno assim.
- Eu sei, mas eles têm suas mulheres e namoradas, diferente de vocês dois que nunca namoraram ninguém depois que terminaram.
- Claro que namorei, quatro pessoas.
- Nem um desses durou mais do que dois meses, concorda comigo? Por favor, Manu aceita. Vocês nem terão que conviver muito tempo juntos, só algumas horas, você não poderia fazer isso pelo seu velho amigo?
- Não faça chantagens. E é claro que eu quero ser sua madrinha.
- Que ótimo então vamos nos encontrar amanhã para ver o seu vestido, pode ser?
- Nós quem cara pálida? Eu e você?
- Nossa que gíria velha! Eu, você, minha noiva e o Tomás.
- Ele tem que ir mesmo? Se eu que vou experimentar o vestido? Ele é apenas meu acompanhante. E você e sua mulher?
- Nós queremos algo meio que padrão entre os padrinhos, por isso nós vamos ver mais ou menos como é, e ele depende da sua roupa para decidir a dele, ta?
- Ok. Posso aguentar algumas horas com ele.
- Manu, eu sei que você não o odeia que ainda troca e-mails com ele quase diariamente, vocês foram tão amigos por que não pode rolar agora?
- A por que... Vamos ver... Ah é! Eu dormi com ele, quase casei com ele. Deve ser por isso. Eu sei que somos orgulhosos de mais para admitirmos nossos erros, e que muitos ex-casais são amigos. Que é uma briga idiota que já dura três anos. Não precisa me lembrar tudo isso, você já me disse varias vezes. – estava extremamente irritada, mas não por que não gostava da ideia de ser madrinha do casamento de Thiago, mas com a ideia de que talvez tudo aquilo fosse apenas um jogo para que eu pudesse me aproximar de Tomás mais uma vez. – Desculpe me exaltei um pouco. Onde você disse que iríamos nos encontrar?
- No centro da cidade, as 16:00 horas. – Ele respondeu um pouco desconcertado – Você irá gostar de Melissa, ela é uma boa pessoa, e tem nome que você disse que daria para sua filha com Tomás. Se tive se tido, claro.
Senti uma pontada no peito, não foi porque me fez lembrar de Tomás e nossos planos como um casal, mas sim à ideia do nome Melissa. Era bem mais antigo que nosso relacionamento, era algo que eu trazia desde meus 14 anos de idade, o porque do nome eu realmente já havia apagado da minha cabeça, era mais uma daquelas lembranças que por mais felizes que fossem, me faziam sofrer.
- Desculpe – falou Thiago percebendo o silêncio do outro lado da linha. – Não foi minha intenção te fazer lembrar do que não queria.
- Tudo bem, eu não consigo lembrar mesmo porque do nome, é isso que mais me deixa mal, não lembrar.
- Então você vai amanhã?
- Vou sim, pode deixar. Não vou te dar um bolo.
- Até amanhã então
- Até, eu não esqueci que você me escondeu que estava namorando e que ficou noivo não, viu? Vai ter troco.
- Tomara que tenha, tomara. Tenho que desligar agora, tchau, beijo.
- Beijo.
Desliguei o celular e taquei-o novamente no outro sofá de três lugares. Peguei mais uma vez o convite do casamento, e fiquei olhando os nomes em dourado mais uma vez: "Thiago e Melissa". Por que aquele nome agora me perturbava? Parecia tão irrelevante da primeira vez que o vi.
Acabei me cansando daqueles devaneios e de tentar forçar minha mente a lembrar de coisas que eu mesma havia apagado dela. Levantei-me e fui tomar um bom banho.

Um comentário:

Lorina Bo disse...

:D

Estou gostando bastante até agora Cout. :)
Quero ler o que acontece ):

:*