sábado, 21 de junho de 2008

II

Faltava apenas quinze minutos para as quatro, deixei meu carro no estacionamento mais próximo da igreja no centro da cidade, tirei o jaleco e usei um perfume que eu sempre deixava no carro, o cheiro dos produtos químicos muitas vezes acabava impregnando. Peguei minha bolsa e fui andando até a igreja, ali sentei na escadaria e fiquei esperando eles aparecerem.
Ele veio caminhando com as mãos no bolso da calça jeans escura. Seus cabelos estavam um pouco mais cumpridos desde a ultima vez que nos vimos, estavam no meio da nuca, como sempre bagunçados. Quando me viu sorriu levemente e apreçou o passo chegou perto e apenas sentou ao meu lado. O silêncio reinou por um bom tempo, parecia uma eternidade. Confesso que naquela hora que fiquei ali ao seu lado sentido aquele perfume tão familiar, eu tive vontade de encostar a cabeça em seu peito e pedir desculpas, dizer que fui uma completa idiota, beijar sua boca vermelha e ali mesmo amá-lo como nunca o amei. Porém rapidamente expulsei todas aquelas idéias da minha cabeça, só podia estar ficando louca.
- Desculpe-me por ter dito ao Thiago que trocávamos e-mails. – Disse ele sem olhar para mim apenas paras as pessoas que passavam andando.
- Tudo bem não tinha por que mesmo continuar escondendo. – Respondi sem encará-lo.
Voltamos ao desconfortável silêncio.
- Estranho não é? O Thiago se casando, sendo que quando nos conhecemos ele disse “Não gosto de mulheres”, achamos até que ele era gay. – disse ele sorrindo – Todos casados, e a gente aqui.
Acho que só depois que as palavras haviam saído da sua boca que ele percebeu o que tinha dito. Ele empalideceu e rapidamente ruborizou-se. Meu coração quase saiu pra fora e se reprimiu até quase explodir me faltou o ar, as lágrimas quase voltaram a cair, mas me recompus rapidamente.
- Não é? Muito estranho estar se preparando para o casamento do Thiago, nunca pensei que ele ia se amarrar a alguém. – Fingi não ter escutado as ultimas palavras dele.
- Com toda certeza. O que essa garota deve ter para convencê-lo a casar?
- Talvez possamos descobrir agora. – Apontei para um casal que vinha caminhando em nossa direção.
O homem de cabelos castanhos claros era alto e os olhos escuros aparentavam um ar de esnobe, vinha de mãos dadas com uma jovem de cabelos castanhos escuros ondulados até o meio das costas, seus olhos eram verdes com mel, e vinha sorrindo e o seu rosto me pareceu familiar por um instante, mas logo resolvi que nunca havia visto antes.
- Vocês vieram juntos? – Foi a primeira coisa que Thiago perguntou antes mesmo de nos cumprimentar.
- Não, não viemos. – me apressei em responder e o fuzilei com os meus olhos.
- Thi... – Interrompeu a jovem de mãos dadas com ele, ela parecia ter percebido o clima que tinha começado a se formar.
- Desculpe, essa aqui é Melissa. Melissa, esses são Tomás e Manuela, velhos amigos.
Tomás apertou a mão dela e sorriu.
- Belo nome o seu.
- Obrigada - ela disse.
Melissa me cumprimentou com um beijo no rosto. Seu perfume me fez arrepiar inteira, meu coração acelerou sem explicação nenhuma, se minha pele não fosse escura eu teria rosado nas bochechas.
- Prazer – disse sorrindo.
- O prazer é todo meu, o Thiago me falava muito de vocês.
- Melhor irmos andando – falou o noivo que saiu andando de mãos dadas com sua mulher.
- Espere. – Tomás me puxou pelo braço – Você ia esquecer sua chave.
Ele me entregou um molho de chaves com um chaveiro estilo oriental.
- Obrigada.
Começamos a andar um pouco atrás do casal que seguia conversando alegremente.
- Vejo que ainda usa o chaveiro que eu te dei. – me disse Tomás.
- Uso sim – sorri – você me deu aquela vez que fomos a uma feirinha na viagem à praia.
- Você ainda se lembra. Achei que fosse apenas mais uma memória apagada de sua mente.
- Não, me arrependo de ter apagado aquelas lembranças da minha cabeça.
- Mas você sabe que elas estão ai em algum lugar?
- Sei sim, mas vou viver o agora se for preciso lembrar algo lembrarei.
- Você realmente não consegue me enganar. - Ele disse me surpreendendo – eu sei quando você mente.
- Quer que eu diga a verdade? – Indaguei.
- Por favor.
- Eu gostaria de lembrar de tudo sim, mas isso só depende de mim, não quero lhe preocupar com isso.
Ele apenas sorriu, não disse mais nada, colocou as mãos nos bolsos e pareceu se perder em seus pensamentos.
Andamos quatro quadras até chagar ao um estabelecimento de compra e aluguel de roupas para casamento. O lugar tinha dois andares um com vestidos e o segundo com ternos, smoking, e outras vestimentas masculinas.
- Manu – Me chamou Thiago – Vá com a Melissa, ela irá te mostrar os vestidos.
- Ok, depois encontro vocês então.
Acompanhe-a em silêncio, ela mantinha um sorriso singelo no rosto, porém não imperceptível, mexia constante mente no anel em seu dedo, ela aparecia ansiosa para ocasião mesmo faltando ainda alguns meses pela frente.
- Ola senhorita Melissa – cumprimentou a vendedora sorridente. – Vejo que trouxe a madrinha que faltava. Sua amiga também?
- Não do meu noivo, mas espero que se torne minha também. – Respondeu ela sorrindo pra mim.
- Claro. – Soltei um dos meus sorrisos mais falsos, não que não quisesse fazer amizade com ela, porém estava totalmente desconfortável, naquela situação, existia uma coisa que eu e Tomás não gostávamos de fazer, experimentar roupas. Pensei em como ele estava se saindo no andar de cima.
Melissa se sentou de pernas cruzadas em uma cadeira na frente de três cabines de provadores, a vendedora colocou sobre os meus braços três vestidos e me indicou a cabine do meio.
Os três vestidos eram do mesmo corte e tecido só mudava a cor um era vermelho, um amarelo bem claro e o outro um azul royal, escolhi o que a cor mais me agradava e vesti ele estava um pouco largo na parte dos seios, mas era normal, era um vestido para se alugar e com toda certeza deveriam se fazer ajustes. Ao me olhar no espelho, surpreendi a mim mesma com o que vi, o vestido realmente era lindo mais do que eu pensava quando a vendedora me deu, ele era um tomara que caia e a saia descia com frisados até um pouco abaixo dos joelhos, era simples, porém lindo.
- Já se vestiu querida? – Perguntou a vendedora do outro lado de lá da cortina.
- Já sim. – Respondi me fitando no espelho.
- Então sai para que possamos dar uma olhada.
Abri a cortina e dei alguns passos para frente, o vestido dava um belo movimento quando andava.
- Esta ótima, ficou muito bom para você. – Me disse Melissa sorrindo.
- Obriga. – Fiquei encabulada.
Nesse momento vi Tomás descendo as escadas vestindo um fraque bege e uma calça cinza com pregas. Abaixo do fraque vinha um colete preto sobre uma camiseta levemente rosa. A gravata era da cor de meu vestido. Ele esta maravilhoso, seus ombros pareciam muito mais largos, que lhe deu um ar de elegante, charmoso, sensual.
Ao me ver ele levantou as sobrancelhas e sorriu, se aproximou e parou ao meu lado de frente para um grande espelho.
- Você está linda. – Ele me disse corando um pouco.
- Você também não está nada mal – Falei olhando para seu reflexo no espelho.
- Nossa! – Esclamou a vendedora – Realmente vocês formam um belo casal. São casados?
Pude ver que Melissa se contorceu na cadeira ao meu lado, acho que ela já estava ciente da situação em que eu e Tomás vivíamos, resolvia acabar com aquilo ali mesmo.
- Não senhora, não somos casados, apenas amigos. – Sorri falsamente. – Acho que tenho que fazer alguns ajustes no vestido, se for esse mesmo que irei vestir.
- Por mim pode ser esse mesmo, ele está ótimo em você. O que você acha? – Perguntou Melissa a Thiago que se aproximou, após ter ouvido do segundo andar a pergunta impertinente da atendente.
- Muito bom, a roupa está perfeita para o dois.
- Ok, então. – sorriu a mulher – Farei os ajustes necessários, dentro de uma semana podem voltar aqui para a segunda prova.
Ela marcou com alfinetes coloridos alguns pontos onde deveria diminuir o tamanho do busto. Na calça que Tomás usava ela marcou uma pensa, realmente a calça estava meio larga. Tiramos as roupas e os quatro se encontraram na frente da loja.
- Poderíamos ir tomar um café agora. – Sugeriu Melissa alegremente.
- Eu não posso, tenho que voltar ao restaurante. – Respondeu Tomás
- Sem problemas para mim. – Disse calmamente. – Hoje não tenho que dar aula.
- Então vá com a Manu. – Sugeriu Thiago todo sorridente. – Eu não vou poder ir, mesmo assim vocês podem conversar um pouco mais e ir se conhecendo.
Melissa apenas sorriu, se despediu de Tomás, e deu um longo beijo em Thiago. Por um momento aquilo foi bem desconfortável, porém logo acabou.
- Podemos ir? - Perguntou Melissa.
Concordei e com a cabeça, acenei para os dois e descia a rua a pé, acompanhada jovem que acabara de conhecer.

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